Mangá – Conheça o passo a passo da criação

Por: Carol Cunha 28 de abril, 2023

Mangá é a paixão de muitos aspirantes a artistas. Mas você sabe como ele é feito e as etapas desse processo?  Pois vamos responder a essas perguntas neste texto. Das ideias iniciais até a criação dos balões e aplicação dos textos.

Roteiro  

Mangaká Kyoko Kumagai (Scarlet Fan) conversando com seu editor (Fonte: Japan Trends)

Antes de tudo, para começar a criar um mangá, o mangaká deve colocar suas ideias no papel e organizá-las. Desse modo, o primeiro passo é definir o tema geral do roteiro, como amor, história de detetive ou comédia.

Em seguida, o mangaká elabora os personagens, incluindo o herói ou heroína, o anti-herói e os personagens secundários. É importante trabalhar igualmente tanto na personalidade de cada um quanto em sua aparência física, a fim de refletir sua personalidade.

O artista então esboça o roteiro completo, desde a introdução até o final do capítulo, incluindo o desenvolvimento e as reviravoltas da história. Para isso, é importante considerar elementos como, por exemplo:

Cenário : Existe uma noção clara de tempo, lugar e humor geral?

Personagens : Os personagens principais são totalmente desenvolvidos e críveis? Eles têm personalidades, motivações e desafios distintos?

Enredo : A história segue uma sequência ou arco natural (informações de fundo, ação crescente, conflito, resolução)? Existem lacunas nas informações que possam confundir os leitores?

Narração : O ponto de vista é consistente?

Tema : Que lições os personagens aprendem?

Após a criação da história, o artista e o editor se sentam juntos para revisá-la. Na indústria de mangá, o papel do editor é crucial, já que ele aconselha e ajuda o artista a definir o que é melhor para sua série.

O editor, portanto, é visto como um parceiro criativo e amigo próximo pelo artista, compartilhando suas ansiedades e garantindo que o trabalho seja concluído sem problemas. Estima-se que o editor contribua com cerca de 30% do sucesso de um mangá.

Thumbnails/Layout

Fonte: Bakuman

Durante esta fase inicial, o mangá é apenas um esboço bruto com desenhos simples e diálogos básicos, servindo como uma forma de testar se o conteúdo funciona. O foco principal é, enfim, trabalhar na composição de cada página de quadrinhos e no fluxo geral da história.

É essencial, portanto, garantir que o texto e as ilustrações se encaixem perfeitamente em cada painel, ao mesmo tempo em que criam impulso na história para manter os leitores com interesse. O mangaká precisa se perguntar se a caixa de diálogo funciona, se a ação é clara, se há muita ou pouca coisa acontecendo em cada página e se há muito ou pouco texto.

Se o mangaká encontrar problemas em sua primeira rodada de miniaturas (thumbnails), ele pode simplesmente descartar a página e criar um novo esboço. Essa parte do processo criativo pode envolver muitas tentativas e erros. É sempre melhor descobrir como a história progride antes de gastar tempo finalizando os desenhos.

Uma vez que o editor dá sinal verde a este rascunho, o trabalho começa, enfim, de verdade.

Desenhando

Mangaká Kyoko Kumagai e seus assistentes
(Fonte: Japan Trend)

Se o mangaká decidir trabalhar com papel para fazer seu mangá, o primeiro passo será desenhar a lápis. No entanto, se ele estiver utilizando ferramentas ou softwares de desenho digital, ele começa delimitando suas ilustrações. Geralmente, os contornos dos quadros (painéis) são feitos com lápis azul (invisível durante a impressão) e, em seguida, o artista faz seus esboços dentro de cada um com lápis cinza. Além disso, é importante se lembrar de deixar espaço para quaisquer legendas ou textos.

Ao contrário do que muitos pensam, o mangaká não costuma trabalhar sozinho na criação de seu mangá. A presença de assistentes talentosos é fundamental. Por exemplo, um mangá costuma ter cerca de 30 páginas para fazer por mês, e seria impossível criar todo esse conteúdo sozinho com prazos curtos, por isso o artista costuma contar com a ajuda de assistentes. Pequenos detalhes são importantes, como o pano de fundo de um painel ou objetos que os personagens estão segurando em suas mãos, e são esses detalhes que os assistentes que podem adicionar. No entanto, como os personagens são um fator extremamente importante em qualquer mangá, o próprio artista é o responsável por sempre desenhá-los.

Portanto, é importante lembrar que a qualidade do produto final depende tanto da atenção aos detalhes quanto da colaboração entre o mangaká e seus assistentes.

Arte-Final

Fonte: Bakuman

Uma vez que os esboços estão prontos, o próximo passo é a arte-finalização, que é a etapa final do processo de desenho. Durante essa fase, os lápis e as linhas indesejadas são apagados e as ilustrações são reforçadas com canetas nanquim. A arte-finalização é uma etapa crucial, pois é a última chance de corrigir quaisquer erros ou imperfeições antes da impressão.

Nessa etapa, o mangaká e sua equipe utilizam uma variedade de ferramentas para criar a arte final do mangá. Se estiverem trabalhando em papel, o primeiro passo, que já mencionamos, é esboçar o layout da página com lápis. Em seguida, eles traçam os contornos das caixas com uma caneta nanquim e, depois disso, os detalhes dos personagens e das configurações são preenchidos com uma caneta mais fina.

Para adicionar sombreamento e profundidade, os artistas utilizam marcadores de diferentes espessuras. Eles também podem adicionar efeitos especiais, como linhas de velocidade ou retículas, que ajudam a criar texturas interessantes nos fundos e nas roupas dos personagens.

As retículas são uma técnica muito importante no processo de criação de mangás, e são usadas para criar tons de cinza no desenho. Elas consistem em pequenos pontos ou linhas que ficam lado a lado para criar diferentes tons de cinza. Esses pontos podem ser menores e mais distantes para criar tons mais claros, ou maiores e mais próximos para criar tons mais escuros. Embora as retículas costumem ser aplicadas manualmente, hoje em dia, muitos artistas usam programas digitais para aplicar esses efeitos.

 “Letramento”

No Japão, diferentemente do ocidente, não são letras que são colocadas nos balões de diálogo, mas sim ideogramas japoneses conhecidos como kanji, hiragana e katakana. Apesar disso, o processo não é muito diferente do que é feito no ocidente quando se trata de adicionar o texto aos balões de diálogo.

O processo pode ser feito manualmente ou digitalmente. Independentemente disso, o texto precisa ser legível para que tenha o impacto que se deseja.

No método tradicional, o artista começa adicionando os diálogos a cada balão com um lápis azul. Ele também pode praticar em um rascunho, reproduzindo a forma do balão e inserindo o texto. Depois de encontrar a configuração certa, o artista pinta os caracteres com uma caneta ou uma ponta fina de feltro.

Conclusão

Ser um profissional de mangá requer muito estudo e dedicação. Além de conhecer a cultura japonesa que deu origem a esse tipo de história em quadrinhos, é essencial dominar as técnicas fundamentais de ilustração e criação de personagens.

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