Homem-Aranha no Aranhaverso: Entenda a revolução técnica

Por: Carol Cunha 26 de maio, 2023

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso promete ser ainda mais revolucionário em termos de visual que seu antecessor.

Mas o que fez do primeiro Homem-Aranha no Aranhaverso ser tão visualmente cativante a ponto de ganhar o Oscar de Melhor Animação?  Vamos destrinchar as razões.

Estilo Pixar vs Aranhaverso

Até recentemente, a maioria esmagadora das animações 3D queriam copiar o “estilo Pixar”. Em suma, um fotorrealismo imediatamente reconhecível que mistura personagens mais cartoon com elementos que imitam com perfeição a vida real.

Copiar o “estilo Pixar” era, portanto, seguro, popular e confiável para atrair o grande público. Desse modo, essa foi a linha comum de pensamento até que em 2018, Homem-Aranha no Aranhaverso mudou o jogo.  Ou pelo menos provou que o público estava igualmente aberto para filmes que saíssem da zona de conforto do “estilo Pixar”. E que, do mesmo modo,  assumissem riscos  de estilo e usassem a animação para criar novas realidades ao invés de imitar o que era visto.

Portanto, Homem-Aranha no Aranhaverso conquistou instantaneamente tanto o público quanto a crítica, com seu estilo visual vibrante e pouco ortodoxo que em parte se baseou na estética vintage dos quadrinhos.

Inovações

Elaboraram o roteiro de modo que era possível experimentar ideias bem inovadoras ao mesmo tempo em que se mantinha fiel à essência do Homem-Aranha.  O resumo da sua trama é o seguinte: Um colisor de dimensões transporta diferentes versões do Aranha de universos alternativos para a Nova York do adolescente Miles Morales. Juntos eles precisam derrotar quem está por trás desse incidente.

Cada visitante interdimensional tem uma aparência e textura que tinha a ver com sua personalidade e inspiração. O Homem-Aranha clássico, como a figura mentora do protagonista Miles Morales, e a Spider-Gwen, o interesse romântico do herói, tinham um visual próximo do Miles. Mas os demais trabalhavam muito com a ideia de estilos diferentes e animação híbrida. Tínhamos um Homem-Aranha ‘noir’ que era preto e branco, existencial e uma clara referência às tiras de quadrinhos The Spirit de Will Eisner dos anos 1940 e 1950. Uma versão no estilo anime, Peni Parker, que tinha uma ligação psíquica com um robô-aranha feito por seu pai, que era uma alusão ao gênero ‘mecha’. Nós até tivemos Peter Porker ou Porco Aranha, com os traços mais grossos e um visual chapado cuja inspiração são os desenhos clássicos do Pernalonga e seus amigos.

Tanto Peni quanto o Porco-Aranha têm movimentos cheios dos exageros de, respectivamente, anime e cartoon  que se destacam em comparação com o mundo de Miles. Já o Homem-Aranha Noir, por ser em preto e branco, exigia mais texturas e sombras com mais detalhes.

Animação Escalonada

Para alcançarem o resultado final, foram necessários 177 animadores na equipe, enquanto mesmo em produções grandiosas geralmente as equipes possuem metade disso.
Em termos de comparação, o primeiro Toy Story teve apenas 27 animadores.

Sem dúvidas, os criadores realmente desejavam que Homem-Aranha no Aranhaverso se destacasse entre as produções de animação. E não foi apenas no número de profissionais envolvidos que eles investiram, mas também em tempo e técnicas diversas.

A taxa de quadros por segundo foi uma das mudanças. Normalmente, as animações 3D para cinema são feitas com 24 quadros por segundo, sendo que é criada uma imagem diferente para cada quadro. O que no meio se chama animar em “ones”.

Nesse filme, no entanto, algumas partes foram feitas em “twos”, ou seja, algumas imagens eram mantidas na tela por dois quadros. Assim a pose do personagem dura mais e é mais pronunciada.  Chamamos essa alternância entre “ones” e “twos” de animação escalonada.

Um bom exemplo de como isso se reflete na narrativa é a cena em que Peter Parker e Miles Morales estão balançando em uma floresta. Peter era animado em “ones” para parecer mais ágil. Já Miles foi animado em “twos” para mostrar mais inexperiência.

Efeito Smear

Os criadores também optaram por não utilizar o “motion blur” para suavizar o movimento e torná-lo mais realista como é costume nos filmes 3D. Ao invés disso, usaram uma técnica antiga, o “smear”, na qual vários membros dos personagens são replicados para gerar a noção de movimento. 

Um exemplo muito claro de como utilizaram o “smear” está na cena em que Gwen está tocando bateria e é possível ver várias mãos e baquetas.

Além de buscar inspiração em técnicas antigas, o filme bebeu muito do visual das HQs.  Para conseguir chegar nesse resultado, os animadores colocaram linhas de tinta 2D em camadas de arte 3D para os personagens ganharem uma aparência de desenhos à mão. Além disso, algumas imagens estáticas realmente foram feitas à mão para substituir a animação por computador.

Referências das HQs

Existem linhas de ação para mostrar o movimento. E eles usaram a onomatopeia característica dos quadrinhos, ou palavras na imagem, para frequentemente representar sons e movimentos.

Até mesmo simularam o erro de impressão que às vezes acontece nos quadrinhos, em que o azul e o vermelho não se encaixam, para criar uma profundidade de campo em vez de desfocar o fundo. Quando algo está em foco, as cores se alinham e ficam mais nítidas.

Conclusão

Todas essas técnicas combinadas, fez com que o filme se destacasse e inspirasse outras produções, como é o caso de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas ou do mais recente Gatos de Botas, que experimentaram visuais para além do fotorrealismo para fornecer uma sensação visual única.

Estão ansiosos para ver qual vai ser a nova revolução visual em Homem-Aranha através do Aranhaverso que estreia dia 02 de junho? Nós também.

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