Afrofuturismo em Pantera Negra
O Afrofuturismo é parte essencial tanto do primeiro Pantera Negra quanto de sua continuação Wakanda para Sempre. Contudo, para compreender essa afirmação, é necessário apresentar algum contexto.
Pantera Negra foi aclamado como o primeiro filme de mega orçamento dirigido e co-escrito por afro-americanos, com um herói negro, personagens femininas fortes e um elenco quase inteiramente negro. Não há dúvida de que ele entrou nos livros de história ao receber vários prêmios, especialmente por seus incríveis figurinos, design de produção e trilha sonora inspirados na África.
A designer de produção, Hannah Beachler, começou com uma pesquisa imensa para montar uma bíblia de referências para o filme, o que resultou em um trabalho de mais de 500 páginas. A premissa dela era construir uma sociedade moderna e tecnologicamente avançada baseada primeiramente no conceito de Afrofuturismo, uma estética que combina elementos de ficção científica e fantasia com aspectos da ancestralidade africana.
O que é Afrofuturismo

O Afrofuturismo é um movimento relativamente novo, remontando às décadas de 1960 e 1970.
Ele usa a tecnocultura e a ficção científica como lentes para entender a experiência negra. Expresso através da arte, música, filosofia e várias formas de mídia, ele explora a experiência negra na diáspora africana. Ele coloca a imaginação no centro, fornecendo uma narrativa alternativa para entender as experiências negras, muitas vezes narrando histórias de abduções alienígenas, viagens no tempo e sociedades futuristas.
Em suma, as artes, os símbolos e as mitologias africanas estão entre os seus ingredientes, juntamente com a ficção científica.
Esse gênero permite que os indivíduos imaginem um futuro idealista, que é um dos primeiros passos para a construção de um futuro mais desejável para a humanidade. Portanto, incluir a negritude dos filmes populares de ficção científica transmite a mensagem de que as histórias negras são igualmente importantes na consideração do futuro da humanidade.
Desse modo, o afrofuturismo fornece a artistas e escritores negros um meio de introduzir mais histórias negras no reino da ficção científica.
Equilíbrio entre moderno e ancestral
Pantera Negra centra-se na ascensão do Príncipe T’Challa ao trono de Wakanda. Ele se torna rei e líder espiritual do país tecnologicamente mais avançado do mundo – o único país da África intocado pela colonização européia. É um mundo tornado possível por uma montanha de Vibranium (o material mais duro do universo) voando pelo espaço e colidindo com a África há milhares de anos. O cataclismo alterou o ambiente de Wakanda e criou uma fusão de vida vegetal que era ao mesmo tempo terrestre e alienígena. A ênfase alienígena e sobrenatural desta história dá a ela uma perspectiva afrofuturista.
No primeiro Pantera Negra, o diretor Ryan Coogler equilibrou magistralmente o retrato de uma sociedade tecnologicamente avançada com considerações cuidadosas sobre as escolhas estilísticas afrocêntricas. Coogler projetou o país de origem do protagonista, o rei T’Challa, para homenagear as verdadeiras tradições culturais africanas. Algumas das influências africanas no filme incluem a frequente aparição do cobertor Bathoso, usado por pessoas Sotho na África Austral. No filme, um dos lados era feito com vibranium, para que seus cobertores pudessem ser utilizados como escudos durante os combates.
Além disso, o ator Chadwick Boseman escolheu deliberadamente adotar um sotaque Xhosa para seu papel de T’Challa, apesar do pedido da Marvel para que os wakandanos tivessem sotaque britânico. A Xhosa é uma das línguas oficiais da África do Sul e, igualmente, se associa à luta sul-africana contra os colonizadores brancos.
Representação Positiva
Embora possa parecer óbvio que um filme ambientado na África se inspiraria nas culturas africanas, Pantera Negra difere das representações tradicionais da cultura africana pela forma como celbra as culturas africanas em vez de retratá-las de maneira mais retrógrada.
Isso contrasta fortemente com as representações ocidentais tradicionais da África na mídia popular, que tendem a se concentrar em seus aspectos negativos, como pobreza, guerra e fome. A imagem não estereotipada de um país africano exibida em Pantera Negra desempenha um papel importante na erosão dos estereótipos negativos que as pessoas ao redor do mundo têm sobre os africanos e seus descendentes. Wakanda não é apenas tecnologicamente avançada e economicamente sólida, mas os habitantes de Wakanda nunca foram alvo de racismo, supremacia branca ou injustiça racial.
A capacidade do filme de imaginar uma África não colonizada futurista e alternativa fornece ao público retratos positivos da África além dos estereótipos de guerra civil e violência, doenças, fome e outros males sociais.
Identidade Pan-Africana
O filme, do mesmo modo, deixou os espectadores negros com uma sensação de orgulho e conexão com uma identidade pan-africana. Essa identidade panafricana conecta negros mundo afora aos africanos.
Havia uma paleta de cores rígida, elaborada pelo diretor, Ryan Coogler, desde o primeiro filme: Chadwick Boseman, que interpretou T’Challa, vestia preto na maioria das cenas; Okoye e seu bando de guerreiras, as Dora Milaje, usam vermelho; e a espiã Nakia, da tribo do rio, está em tons de verde. Isso não foi por acaso, pois preto, vermelho e verde também são as cores da bandeira pan-africana.
Expansão
Pantera Negra: Wakanda para Sempre retorna com a mesma temática afrofuturista, expandindo e aprimorando o que foi estabelecido no primeiro filme, com novos designs, novas partes de Wakanda sendo vistas, continuando uma construção de mundo coesa e sólida. Ou seja, o afrofuturismo não pode ser dissociado da série de filme do Pantera Negra.
O segundo filme trouxe um elemento a mais, que é a inclusão de Talocan, uma cidade submersa, governada por Namor e inspirada em povos mesoamericanos, misturando as características maias e astecas com elementos marinhos como conchas, pedras, algas e jade. Mas adentrar nos aspectos de Talocan foge do tema principal do nosso texto, que é o afrofuturismo em Pantera Negra.
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